Segundo a sabedoria contida no livro I Ching, tudo se renova a todo momento, ao mesmo tempo que algo permanece imutável. O que muda e o que não muda? O que não muda são as leis e princípios universais; todo o resto é manifestação dessas leis e, portanto, possui uma existência cíclica. Com a prática do Tai Chi Chuan, podemos enxergar esse princípio – a sequência segue fluida, com movimentos encadeados e formando um todo harmônico.
O encadeamento do Tai Chi Chuan
Ao iniciarmos a forma, os movimentos nascem do vazio da quietude, seguem arredondados até retornarem à raiz no dantian (tan tien), penetrando novamente no vazio sem começo e sem fim. Por outro lado, o praticante sabe que dentro dessa fluidez, os movimentos surgem e cessam, cada um com suas características e seus nomes. As partes formam o todo e o todo integra as partes. O que temos não são unidades isoladas, mas fases que compõem esse todo, assim como as quatro estações da natureza compõem o ciclo de um ano.
Ciclos naturais
A Terra está em constante movimento e nos adaptamos ao seu ritmo de 24 horas com suas fases Yin (noite) e Yang (dia). Também nos adaptamos ao ritmo da Terra ao redor do Sol completando um ano. O Dao De Jing diz que o homem se adapta à Terra e a Terra se adapta ao Céu. O Céu é ilimitado e, além do ciclo de rotação da Terra em seu próprio eixo e da translação ao redor do Sol, inúmeros planetas e corpos celestes têm seus movimentos orquestrados afastando-se e aproximando-se da Terra. Há um conhecimento oculto sobre como eles nos influenciam e, assim como na astrologia ocidental, os antigos sábios chineses compuseram sistemas de reconhecimento dessas forças naturais agindo sobre nós.
Essa análise será apresentada a todos às vésperas do ano novo chinês, que começará em 10 de fevereiro de 2024. Lançaremos no Canal Centro Dao um vídeo especial com análise do Mestre Liu Chih Ming a partir de quatro métodos chineses de previsão. O que adianto aqui é uma característica marcante e que todos podem perceber: o excesso de calor.
Desequilíbrios
O calor é o resultado da energia Yang, que contrasta com a força fria do Yin. A previsão é de mais aumento do Yang, gerando a energia do Fogo que, em excesso, queima nossas reservas, gera agitação e fervor. Devido à influência que o ambiente tem sobre os humanos, os nossos sistemas internos que possuem correspondência com o Yin Yang e os cinco elementos também recebem o impacto do excesso de Yang.
Se por um lado, isso representa um perigo iminente, por outro lado, temos maneiras de nos proteger (pelo menos relativamente). É o que a medicina chinesa faz: utiliza a sabedoria taoista para harmonizar Yin e Yang. Se o Yang tende a nos puxar para fora, devemos investir na introspecção. Se o seu movimento tende ao desgovernado, nós fortalecemos o nosso eixo de equilíbrio. Se o Yang gera confusão mental, nós treinamos a concentração. Se o fogo queima e seca as reservas, é hora de nos abastecermos e pouparmos nossos recursos. Práticas como a Meditação, o Qigong e o Tai Chi Chuan se mostram essenciais.
O valor da Autorregulação
Há pessoas que olham para a situação como uma grande anormalidade ou uma calamidade. Quem conhece as leis universais reconhece que são apenas desdobramentos naturais de desequilíbrios que são potencializados pelos seres humanos. A categoria “ser humano” engloba a todos nós também. Lembra? Peças do todo. Apontar o dedo aos outros significa apontar o dedo para nós mesmos. Se a resposta para essa fase temporária é o recolhimento, este é o momento de praticarmos a introspecção. Cuidarmos bem do nosso interior, pois é através do fortalecimento da luz individual que a luz total se torna mais potente.
Que possa cada um, por si mesmos e coletivamente, cuidar do bem estar interno, gerar mais energia de saúde e de felicidade. É um favor não só a nós mesmos, mas a todos. Precisamos despertar para um fato óbvio: neste planeta, estamos todos interconectados.
Marco Moura